A voz como instrumento
Por Greta Lira
Todo mundo sabe cantar, não é? É claro! Mas será que todos têm o dom do canto? Quem nunca experimentou sentar-se ao lado daquele irmão ou irmã que durante o louvor canta com todo o seu coração — o que é muito bom — e toda a sua voz — o que nem sempre é tão bom assim?
A voz é um instrumento que, como qualquer outro, requer cuidados, ensaio e muito treino. Acredito que o dom do canto vem de um Deus criativo que, além de nos dar a capacidade de falar, criou uma forma de expressarmos aquilo que está em nossas almas com uma simples melodia.
Afinação
Uma boa parte da afinação vocal é mental. A “visualização” ou “ouvir as notas na sua cabeça” aparentemente é a melhor ferramenta para acertar o tom. É igualmente importante treinar os ouvidos. Precisamos separar tempo para ouvir músicas, prestando atenção na melodia para que possamos cantá-la nitidamente. Não se preocupe em enfeitar a música com escalas e “voltinhas”. Na medida certa, isso pode acrescentar muito à melodia. Na medida errada, pode ser uma tragédia.
A respiração também influencia em grande parte a afinação. A maneira certa de respirar é utilizando o diafragma — músculo localizado abaixo dos pulmões —, que pode ser treinado para aumentar a capacidade de segurar mais ar a fim de sustentar notas longas e controlar a afinação. Pessoas assumidamente desafinadas não precisam entrar em desespero. É possível, sim, melhorar a sua afinação com um pouco de treino e paciência. Aulas de canto também são ótimas para isso.
Vocais na banda
No canto, podemos achar vários papéis para a voz. Entretanto, é importante começarmos pela voz principal. Dentro de uma igreja, é necessário que a voz principal (ou melodia) seja segura para que as pessoas saibam a quem seguir na hora do louvor. É necessário que simplifiquemos ao máximo a melodia para que as pessoas possam cantar juntas. Outra responsabilidade da voz principal é transmitir o que Deus está fazendo através da sua voz. Isto inclui emoção, expressão e sinceridade.
Cantores que fazem “backing vocal” têm a capacidade de acrescentar muito à música. Porém, se não for feito da forma correta, pode virar um desastre. O objetivo é dar suporte a voz principal. Uma boa música precisa de dinâmica para respirar, crescer e diminuir. É aí que a segunda voz se torna fundamental. Como “backing vocals”, precisamos ser sensíveis ao resto do grupo para achar o nosso espaço e não invadir o espaço dos outros.
Geralmente, encontramos nas igrejas dois tipos de “backing vocal”: contralto e tenor. Estas vozes precisam harmonizar-se com a melodia e com os acordes da música completando o arranjo. Cantores que fazem a voz principal nem sempre são bons no que se refere à segunda voz e vice-versa. A chave é fazer aquilo que você sabe com excelência. É importante reconhecermos nossos limites e trabalharmos para melhorar.
Ensaio
Quando se trata de ensaio para uma banda de louvor, geralmente os vocalistas são esquecidos. O ideal é dar oportunidade para que eles ensaiem sozinhos e, depois, com a banda. Ensaiar os vocais separados da banda pode ajudar na elaboração de novas harmonias. É importante que cantores consigam ouvir e adequar as suas vozes ao que as outras pessoas estão cantando. Um bom exercício é formar um círculo e prestar atenção nas pessoas a sua volta para modular o volume da voz. Assim, é possível ensaiar a dinâmica, crescendo ou diminuindo em intensidade.
Também neste contexto, podemos distinguir quais vozes ficam melhores na melodia principal e nos contraltos e tenores. Precisamos criar um ambiente seguro, em que as pessoas possam tentar coisas novas, se arriscar sem medo de serem humilhadas. Coisas que raramente aconteceriam num ensaio geral.
Eu e minha voz
A voz faz parte do nosso corpo e qualquer coisa que nos afeta fisicamente, também afetará a nossa voz. Por exemplo: sedentarismo, insônia, cansaço e má alimentação — especialmente bebidas geladas. Algumas dicas práticas são: tomar bastante água para hidratar o corpo e limpar as cordas vocais; evitar extremos de temperatura de alimentos — muito frio ou quente; não abusar de açúcar, refrigerante e fritura, pois criam sujeira nas cordas vocais provocando o famoso pigarro; evitar sal em excesso, pois resseca a voz; e fazer exercícios de aquecimento e desaquecimento vocal — cantar “frio” pode cansar rapidamente sua voz. Atenção: se você sentir algum tipo de desconforto ao cantar, não use “sprays” ou sal, que são anestésicos. Esta é a forma que seu corpo encontrou para avisar que está na hora de parar.
Outro ponto importante é treinar a respiração. Existem alguns exercícios simples que podem ser feitos como deitar no chão e colocar um livro sobre o seu abdômen, focalizando seu esforço em levantar o livro. Isso ajuda a descobrir como usar o seu diafragma e aumentar o controle sobre a respiração. Outra dica é encher bem os pulmões de ar e soltá-lo de modo uniforme e pausado, procurando sempre aumentar o tempo de expiração. Quanto mais lento, melhor.
No canto, há diversas classificações como soprano, contralto, tenor e baixo. Através de exercícios vocais, podemos aumentar o alcance da voz. Isso é importante para expandir a quantidade de notas que podemos atingir. Cantores profissionais podem alcançar até cinco oitavas (ou 61 notas). Um cantor amador alcança, no mínimo, duas oitavas (ou 25 notas).
Embora essas dicas sejam práticas e muito úteis, se você deseja obter melhores resultados como cantor ou cantora, até mesmo se profissionalizando, é muito importante buscar ajuda profissional. Procure um professor qualificado. Lembre-se que a voz é um instrumento e requer estudo e preparação. Busque modelos ou referenciais de vozes e estilos musicais que você pretende seguir. Isso é saudável e pode ajudar bastante enquanto você descobre sua própria voz.
Concluindo...
Acho que a palavra-chave para qualquer cantor é sensibilidade. Todo mundo pode cantar, mas nem todo mundo tem o dom do canto. É necessário que sejamos humildes para reconhecer nossos limites e também quais são os dons que Deus nos deu. Quando tratamos de arte, lidamos com pessoas extremamente sensíveis e precisamos praticar o que a Bíblia diz: “falar a verdade em amor”. Não favorecemos ninguém quando, como líderes, fingimos que alguém canta bem apenas para não decepcioná-lo.
Precisamos ter sensibilidade como cantores, utilizando e aperfeiçoando o nosso dom, e como líderes nas nossas igrejas, ajudando cada pessoa a descobrir seus talentos e dons para a edificação do Corpo.
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